Sobre os dois últimos romances de Michel Houellebecq

Ainda que as sinopses sugiram o contrário, O mapa e o território (2010), vencedor do Goncourt, e Submissão (2015), vendido com o apelativo (e por isso mesmo ruim, além de falso) rótulo de “o livro mais polêmico do ano”, têm muito em comum. Não encontrei um meio de comentar o segundo sem mencionar o primeiro.

Os mapas

O mapa e o território é uma espécie de romance de formação narrado de forma não linear. Jed Martin, o protagonista, é um artista arredio, confuso e ausente — características que a escrita em terceira pessoa consegue acentuar. Em sua primeira fase criativa, ainda na juventude, Jed parece querer ordenar os elementos que compõem o entorno visível: munido de uma câmera fotográfica, ele dá os passos iniciais na carreira ao tentar “fornecer uma descrição objetiva do mundo”. Jed captura objetos variados, desde que fabricados pelo homem, e acumula um acervo impressionante de imagens. Permanece, contudo, desconhecido.

A sorte de Jed começa a mudar quando, numa loja de conveniência, descobre um punhado de mapas Michelin Départements do interior da França. “Nunca contemplara um objeto tão magnífico, tão prenhe de emoção e de sentido quanto aquele mapa Michelin […]. Nele, a essência da modernidade, da apreensão científica e técnica do mundo, confundia-se com a essência da vida animal. O desenho era complexo e bonito, de uma clareza cristalina, utilizando apenas um código restrito de cores. Mas em cada um dos vilarejos e aldeias, representados conforme sua importância, sentiam-se a palpitação e o apelo de dezenas de vidas humanas, de dezenas ou centenas de almas”, escreve Houellebecq. Assim como uma proposição verdadeira espelha os estados de coisas que compõem a realidade, os mapas reproduzem um esquema organizado e preciso de uma paisagem existente. Não há espaço para o incerto: os traços apontam as rotas, os desvios e os atalhos que se pode percorrer. Só Jed, desconsiderando a utilidade prática dos mapas, consegue pressentir o invisível e o disperso, o elemento surpresa.

E Jed, que havia abandonado seu inventário de objetos, passa a fotografar os mapas. Tempos depois, a convite da própria Michelin, decide mostrar o resultado do trabalho. A exposição faz sucesso, e ele acumula críticas positivas. No universo de colecionadores e marchands, Jed agora é um artista reconhecido com uma reputação em jogo.

“É impossível escrever um romance, dissera-lhe Houellebecq na véspera, pela mesma razão [pela qual] é impossível viver: em razão das inépcias acumuladas. E todas as teorias da liberdade, de Gide a Sartre, não passam de moralismos concebidos por solteirões irresponsáveis. Como eu, acrescentara, atacando sua terceira garrafa de vinho chileno.”
O mapa e o território

Realizado, Jed viaja pelo interior da França na companhia da namorada russa, casualmente funcionária da Michelin. É então que descobre o próprio país, palmilhando e desbravando aquilo que antes era plano e indistinto. A imersão nos cenários, porém — nas trilhas e nas estradas, entre um hotel pretensamente pitoresco e outro —, não oferece a mesma epifania que a visão dos mapas. O real, tal como se apresenta, não interessa tanto assim a Jed, ou, se interessa, continua a parecer distante e inalcançável. De qualquer forma, há no protagonista uma incapacidade de se comprometer, e não apenas com Olga, a namorada russa, mas com a própria vida. Jed não se liga a nada e a ninguém. Ele está à deriva, o que não pressupõe o deslocamento — dentro de alguns anos, aliás, ele se tornará um artista recluso.

 

Artista

A cena inicial de O mapa e o território mostra um Jed frustrado e desamparado. O quadro no qual está trabalhando, que se chamaria Damien Hirst e Jeff Koons dividem entre si o mercado da arte, não parece funcionar. A pintura compõe uma série sobre profissões, algo que ele empreende depois da experiência com os mapas. (Como não respeita a linearidade, o romance vai e volta até desembocar, mais ou menos na metade, no momento em que Jed destrói a pintura.)

A questão com os multimilionários Hirst e Koons, quando o artista se torna mais celebrado do que a arte em si, é importante. “Não é uma forma específica de arte, uma maneira que me interessa, é uma personalidade, um olhar pousado sobre o gesto artístico, sobre sua situação na sociedade. Se amanhã você chegasse com uma folha de papel arrancada de um caderno espiral, na qual tivesse escrito: ‘Nem sei se vou continuar na arte em geral’, eu exporia essa folha sem hesitar”, diz o galerista de Jed. Também não é gratuita a descrição da influência que a Michelin exerce na reputação do protagonista.

Apesar de desempenhar seu papel com certa competência nos vernissages, transmitindo uma imagem de artista atormentado e perspicaz, Jed não está interessado, como, de certa forma, Koons e Hirst, na criação de um mito em torno de si. É possível especular se as fotografias dos objetos, o trabalho com os mapas e a série das profissões não corresponderiam a um anseio (frustrado, é claro) não de entendimento, mas de domesticação do mundo. É isso que parece mobilizá-lo, tanto quanto algo é capaz de mobilizar Jed.

 

Michel Houellebecq

Na segunda parte de O mapa e o território, Jed Martin faz amizade com um sujeito tão ou mais excêntrico do que ele: Michel Houellebecq, transformado em personagem do próprio livro. O Houellebecq da ficção, também escritor, é um sujeito misantropo e relapso. Viciado em embutidos, faz suas refeições na cama, onde passa os dias em posição horizontal. Seus hábitos de higiene são precários. Tudo leva a crer que entorna uma garrafa de vinho chileno atrás da outra. Sua figura, tal como descrita (não sem humor) no livro, é miserável.

(Se o Houellebecq fictício gosta de comer e beber bem, o Houellebecq de carne e osso faz questão de inserir em seus livros, e não apenas em O mapa e o território, os detalhes das refeições dos personagens. O paladar é um dos únicos prazeres possíveis, é o que ambos parecem dizer, mas não deixa de ser uma espécie de tirano — não é à toa que o Houellebecq de mentirinha fracassa em sua determinação de abandonar os embutidos. Em Submissão, a degustação de vinhos, licores e pratos variados também aparecerá como um dos únicos gozos ao alcance do protagonista.)  

Jed agora trabalha em sua série de profissões — o narrador já alcançou e ultrapassou a cena inicial —, e, tendo conhecido o autor em outra ocasião, decide retratar Houellebecq para representar a categoria dos escritores. Embora afirme que “é o lugar no processo de produção […] que define primordialmente o homem ocidental”, o objetivo de Jed é menos esboçar uma crítica social do que encontrar uma maneira de captar a essência da figura representada. Foi assim com Jeff Koons, Damien Hirst, Steve Jobs, Bill Gates e Michel Houellebecq, além de vários anônimos.

Curiosamente, é na companhia de Houellebecq (e não na do pai ou de Olga) que o protagonista se sente mais à vontade. Nos diálogos que mantém com Jed, o que contraria sua aparência desmazelada, o escritor mostra seu lado articulado, expondo ideias lúcidas e demonstrando uma consciência aguda daquilo que o rodeia. Acima de tudo, dá a impressão de que saberia exatamente como explorar tudo aquilo que diz na ficção — é isso, afinal, o que ele tem feito livro após livro.

(O caso é que o Houellebecq de carne e osso sabe como criar um personagem. Olhando pela janela da casa de campo do escritor, Jed diz que se fosse “representar essa paisagem hoje, […] simplesmente capturaria uma imagem”. Mas, continua, se “houvesse um ser humano no cenário, ainda que um camponês consertando suas cercas no fim do mundo, então eu me sentira tentado a recorrer à pintura. Sei que isso pode parecer absurdo; alguns lhe dirão que o tema não tem a mínima importância, que, inclusive, é ridículo fazer o tratamento depender do tema em questão, que a única coisa que conta é a maneira como o quadro ou a fotografia se decompõem em figuras, linhas e cores”. Houellebecq, é claro, concorda. “Ainda que meu verdadeiro tema fosse os processos industriais, sem personagens eu nada poderia fazer”, diz o escritor. É um diálogo importante para compreender Submissão.)

 

Alheamento

O alheamento é o ponto central dos dois últimos romances de Houellebecq. No final de O mapa e o território, fica claro que em Jed nunca houve “algo próximo de uma espécie de familiaridade com a vida”. Quando morre, ele se despede de “uma existência à qual nunca aderira totalmente”. Jed come e bebe, trepa e erra solitário pelas ruas de Paris, mas sua posição é a do intruso, do turista desinteressado e ansioso para partir — sem raízes, sem afetos, sem conexões significativas.

Também François, o protagonista de Submissão, é descrito pela namorada como portador de “uma espécie de honestidade anormal, uma incapacidade para enfrentar esses compromissos que, afinal de contas, permitem às pessoas viver”. Ao contrário de O mapa e o território, Submissão é narrado em primeira pessoa.

No caso de François, sua rotina de professor na Sorbonne preenche parcialmente seus dias, que de resto (e em vários sentidos) permanecem vazios. Boa parte de sua vida acadêmica foi dedicada ao escritor francês Joris-Karl Huysmans, a quem lê e relê com avidez. No presente da trama, François contribui esporadicamente com algumas publicações. “Meus artigos eram claros, incisivos, brilhantes; em geral eram apreciados, ainda mais que eu nunca atrasava as datas de entrega. Mas isso bastava para justificar uma vida?”, diz, e em seguida argumenta, sem convicção, que uma vida não precisa ser justificada. Em O mapa e o território, por outro lado, Houellebecq escreve que é possível acreditar que “a necessidade de se exprimir, de deixar um rastro no mundo, é uma força poderosa”, mas em seguida esclarece que “isso em geral não basta”.

Como Jed, François prestava “uma atenção episódica, superficial, à vida política”. Desligado, ele inicialmente não repara na movimentação ao redor. Nas eleições que se aproximam, o partido da Fraternidade Muçulmana começa a ganhar terreno, o que irrita a extrema-direita e alarma a esquerda. Rumores surgem aqui e ali. O controle da universidade troca de mãos. Judeus deixam Paris. Focos de conflito, que a mídia em geral ignora, se proliferam pelo país. A tensão cresce de forma ao mesmo tempo sutil (para François, o narrador) e escancarada (para alguns personagens mais politizados).

O carismático candidato da Fraternidade Muçulmana vence as eleições, o que levará boa parte da população a se converter à religião do Corão. De fato, à medida que o novo governo se fortalece, o poder de escolha se torna quase inexistente. Para um dos novos manda-chuvas da Sorbonne, é o momento de aceitar a “ideia assombrosa e simples […] de que o auge da felicidade humana reside na submissão mais absoluta”. Tanto François como Jed parecem desejar, ou não se importar, que algo ou alguém conduza suas vidas. Diante disso, o foco de Submissão é precisamente o alheamento e a indecisão de François, tal como em O mapa e o território o foco é o alheamento e a indecisão de Jed.

O caso é que Jed, ao contrário de François, tem uma percepção intuitiva — faculdade que independe do interesse e do comprometimento (nele frágeis ou inexistentes) a partir dos quais a maioria das pessoas observa e apreende o exterior. Suas obras, que superficialmente refletem as tensões e as expectativas do momento, derivam de um punhado de sensações aleatórias e desordenadas, e sobretudo involuntárias, como se um impulso inconsciente e incontrolável ditasse seu estado de espírito e, consequentemente, o rumo de seu trabalho. Jed não é engajado. Se algo o mobiliza, não é o desejo de crítica e nem de transformação: é a busca existencialista (e frustrada, uma vez que é executada sem empenho) por algum tipo de sentido, por algo que o prenda ao mundo real.

“Mas só a literatura pode dar essa sensação de contato com outro espírito humano, com a integralidade desse espírito, suas fraquezas e grandezas, suas limitações, suas mesquinharias, suas ideias fixas, suas crenças; com tudo o que o comove, o interessa, o excita e o repugna. Só a literatura permite entrar em contato com o espírito de um morto, da maneira mais direta, mais completa e até mais profunda do que a conversa com um amigo — por mais profunda e duradoura que seja uma amizade, numa conversa nunca nos entregamos tão completamente como o fazemos diante de uma página em branco, dirigindo-nos a um destinatário desconhecido. Então, é claro, quando se trata de literatura, a beleza do estilo, a musicalidade das frases têm sua importância; a profundidade da reflexão do autor, a originalidade de seus pensamentos não são de desprezar; mas um autor é antes de tudo um ser humano, presente em seus livros; que escreva muito bem ou muito mal, em última análise, importa pouco, o essencial é que escreva e esteja, de fato, presente em seus livros.”
Submissão

Por um lado, o fato de Jed demonstrar uma curiosidade e um interesse limitados (e, entre um trabalho e outro, uma capacidade de iniciativa reduzida) corresponde a uma perspectiva romântica da criação artística: a ideia de inspiração, dificilmente separada do conceito de genialidade. Foi um risco que Houellebecq correu. O que salva o personagem e o livro — além da crítica impiedosa ao universo da arte — é que, no fim das contas, o radar de Jed não funciona apenas para determinar seus próximos desafios profissionais. Mesmo alheio, ele capta facilmente o que se passa ao redor. Com sua sensibilidade aguçada, Jed pressente a redescoberta das coisas simples “depois dos anos de ‘grana e hipocrisia’ da década de 1980”; entende que as pessoas tinham “sede de ecologia, de autenticidade, de valores corretos”. Com efeito, o fenômeno parecia a ele “uma guinada histórica importante, passada despercebida naquele momento, como quase sempre acontece”.

O trecho acima também pode ser usado para indicar alguns pontos de Submissão. (a) A tensão na Europa, que talvez seja a “guinada histórica” que Houellebecq avista. (b) A mudança no clima da própria trama, que François de início não percebe. (c) A necessidade, real ou não, de revisar de certos valores. Em Submissão, os “valores corretos” são os valores dos conservadores, que, descontada a xenofobia dos nacionalistas franceses, são representados tanto pela extrema direita quanto pelos seguidores do Corão. O clamor pelo retorno do núcleo familiar tradicional — no caso dos muçulmanos, com mais de uma esposa — é o melhor exemplo disso.

François, como pesquisador ultraespecializado que é, dificilmente lê algo que se distancie de seu objeto de estudo — Huysmans, seu vocabulário, suas influências, seu contexto. No fim das contas, a escolha de Houellebecq não é aleatória. O período em que Huysmans viveu (final do século 19 e começo do 20) é, em certo sentido, semelhante ao futuro próximo em que se encontra François. Na virada do século, os franceses, em geral liberais, se tornaram algo reacionários. Observou-se uma intensa adesão ao catolicismo, onda pela qual Huysmans, um ex-satanista, se deixou levar. O curioso é que o escritor naturalista, antes de engrossar as fileiras dos recém-convertidos, chegou “aos extremos do pessimismo cinzento, da inanidade absoluta da vida”, como destaca Otto Maria Carpeaux. Tanto François quanto Jed conhecem bem o pessimismo e (especialmente) a inanição. Ambos escapam por pouco, aliás, de ser considerados niilistas.

Boa parte do burburinho em torno de Submissão se deve ao fato de que uma caricatura de Michel Houellebecq estampava a capa da edição do jornal Charlie Hebdo em circulação na ocasião do ataque no início deste ano. Na prática, o rótulo de “o livro mais polêmico do ano” tem pouca ou nenhuma relação com a trama. Nas críticas ao islã, no tom satírico, na concepção de um cenário mais sombrio do que o atual, em todo e qualquer detalhe que desperte a curiosidade dos leitores, o livro pode ser considerado contido.

O que se sobressai em Submissão é, no fim das contas, a habilidade com que o autor esboça uma situação complexa enquanto, mais ou menos por baixo dos panos, manipula os aspectos fundamentais da narrativa — justamente os contornos do protagonista. É assombrosa a sutileza com que o cerco se fecha, com François revelando uma personalidade mais e mais peculiar a cada capítulo.

Houellebecq foi feliz na escolha desse narrador fora do tom, que está ali para representar a cegueira voluntária, mas não idiotizada, que marca certos indivíduos inaptos — que não veem sentido no aqui e agora, e muito menos no futuro. No que há de mais essencial, o autor utiliza um personagem semelhante a Jed Martin. Tanto Submissão quanto O mapa e o território são obras de cunho político cujos protagonistas, até o ponto em que isso é possível, se revelam alheios, individualistas e despolitizados. É o que os liga, de fato.

10 Comments Sobre os dois últimos romances de Michel Houellebecq

  1. Bruno

    Oi, Camila, acompanho seu site já há algum tempo, excelente trabalho.

    Da resenha em questão li os dois livros, gostei de ambos porém mais do O mapa e o território. Muito atenciosos e pertinentes seus comentários. Me parece que o tema do alheamento está presente em todos os livros do Houellebecq, assim como certo pessimismo e uma perspectiva um tanto conservadora, nostálgica e machista. Embora talvez menos niilista do que os personagens dos livros anteriores, Jed e François não me parecem escapar do niilismo, como você sugere. No geral a vida para eles não passa de um processo melancólico e sem sentido de decadência. Daí o caráter distanciado e passivo dos dois em relação a quase tudo.

    Abraço

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    1. Camila von Holdefer

      Obrigada pelo comentário, Bruno.
      A questão do niilismo (ou não) dos protagonistas dá muito pano para manga. Penso que nenhum dos dois desistiu completamente da busca por significado, ainda que a procura seja lá meio desinteressada, quase moribunda. Mas sei que o debate é longo.
      François de fato é supermachista, quase misógino. Jed menos, mas vai pelo mesmo caminho.

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      1. Lucas Bender

        Acompanho de perto a obra do Houellebecq. A questão do niilismo, de fato, é controversa. Pessoalmente, identifico no horizonte dos seus personagens uma possibilidade de redenção – seja pelo amor (fica mais evidente em “Extensão do domínio da luta”), seja pela espiritualidade (creio que seja o caso de “Submissão”); François, assim como Huysmans (e também como De Esseintes, o protagonista de “Às avessas”) me parece encarnar a contradição entre a vontade de crer e a incapacidade de se iludir (a “honestidade anormal” a que se refere Myriam). O alheamento a que se refere a Camila pode ser o produto desta contradição, que parece ficar cada vez mais evidente no Ocidente: de um lado, o esfacelamento e a falência de ideais fundamentais (crise de representatividade, erosão familiar, volatilidade afetiva, etc); de outro, a necessidade humana de formar Sentido e compartilhá-lo. O contato com muçulmanos, no coração da Europa em crise, parece fazer aflorar ainda mais o impasse, na medida em que o islamismo parece bem menos vulnerável à crise de sentido. Enfim, pode até ser que o niilismo faça parte do horizonte moral dos personagens de Houellebecq, mas não esgota o assunto, pois me parece latente a possibilidade de transcendência (ou “A possibilidade de uma ilha”, pra citar o título do meu romance preferido dele). Por coincidência, também estou escrevendo uma resenha crítica de “Submissão”, que talvez possa contribuir para o debate. Seja como for, fico feliz que o Livros Abertos tenha abordado a obra do meu escritor contemporâneo favorito.

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  2. Aline T.K.M.

    Gostei muito de ter lido sobre os dois romances aqui neste mesmo post, realmente me parece que há muito em comum entre eles. Minha curiosidade em ler Houellebecq é enorme e vem mesmo de antes desse “polêmico” Submissão. Aliás, por tudo o que você escreveu, não havia parado para pensar nisso antes, mas agora imagino que eu iria gostar muito mais de O Mapa e o Território do que do próprio Submissão (que estou louca para ler há um tempo). Uma coisa boa é que já estou mais preparada, digamos assim; li outras resenhas também mais “pé no chão” com relação a Submissão, contrariando esse marketing todo que tem sido feito do livro. É certo que quando falam e rotulam demais, a coisa é digna de desconfiança, e normalmente o resultado acaba decepcionando por causa das expectativas criadas. Ainda quero ler os dois livros, e agora com mais urgência que antes, e seu texto me deu uma ideia mais clara do que esperar de ambos.

    Beijos, Livro Lab

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      1. Vitor Simon

        Tô terminando de ler Submissão. Toda a ideia do livro é muito boa e ele é muito bem escrito, fluente. Acho que a tradução também ajuda bastante nesse sentido. Uma má tradução pode sepultar um bom livro. Gostei muito de Submissão. Polêmicas à parte, fazer as pessoas se confrontarem com o medo que têm do Islã foi uma sacada genial. Mais do que isso: admitirem, mesmo que apenas para si mesmas, que não sabem nada sobre a religião em sua essência, ou sobre como se articula politicamente. Sabem apenas sobre a jihad, que nada tem de bom, mas que não representa o universo muçulmano como um todo. É, sem dúvida, um ótimo livro.

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  3. Allice Auim

    Opinião é uma coisa muito triste de se expor quando ela é tão exagerada e presunçosa. Você acha que sabe, conhece e entende a obra de Houellebecq, mas é só uma pessoa idiota que não viveu, vivenciou ou mesmo conhece de que ponto parte e qual a função de existir dessas obras. Você leu um livro, dois livros, tem sua opinião, mas deveria guardar para si, porque só demonstra sua limitação. Tristes são aqueles que acham bonito menosprezar o trabalho do outros.

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    1. Camila von Holdefer

      Quem está menosprezando o trabalho dos outros, “Allice”? (Excelente pseudônimo.) Estou relacionando dois livros de um mesmo escritor que têm muito em comum. Só isso.
      O que seria “viver e vivenciar” o ponto de partida e a função de uma obra? Aliás, como você tem tanta certeza da “função” das obras? De que maneira, se me permite, essa “função” condiciona qualquer comentário ou análise? Não existe a menor coerência no que você disse, Allice. (Rimou.) Afirmar que uma obra literária está relacionada a uma função específica (e única) é de uma pobreza extraordinária.
      Com todo o respeito, seu comentário não faz qualquer sentido – e, se me permite, consegue a proeza de se contradizer, uma vez que você, como você mesma diz, demonstra uma severa limitação de compreensão de texto com essas palavras, além de menosprezar o trabalho alheio, do qual, aliás, você tem toda a liberdade para discordar educadamente.

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