Domenico Starnone e o elogio das zonas cinzentas

Nove cartas compõem o primeiro capítulo de Laços, romance do italiano Domenico Starnone. Escritas entre 1974 e 1978, elas revelam o esforço de uma mulher para se reaproximar do próprio marido, que partiu sem maiores explicações.

Aldo, então um professor assistente de gramática grega de trinta e quatro anos, interrompe um casamento de doze anos com Vanda, uma dona de casa de trinta e seis. Ele a abandona, e aos dois filhos, para viver com uma jovem estudante. Hesitando em renunciar formalmente à mulher, porém, e negando ou adiando a possibilidade de uma conversa definitiva, Aldo permite que a indefinição se prolongue por alguns anos. A ambiguidade inicial, com a situação conjugal mal resolvida, marca o restante do livro.

“Sei que faz de conta que não existo e que nunca existi”, diz a primeira das cartas. De fato, é como se Aldo pretendesse revogar a existência da mulher, dissolvendo, com isso, o laço que havia imprudentemente atado. Como não pode romper o vínculo sem causar dor, faz com que situação se arraste. Acima de tudo, Aldo evita o confronto. “Toda essa nossa conversa me parece falsa”, escreve Vanda. Não há um diálogo, é claro, mas um monólogo. As cartas ficarão sem resposta. Até ser neutralizado, o desespero da mulher aumenta na medida em que o tempo passa e as explicações não chegam ou não bastam.

Mencionados por ela nas cartas, os breves embates entre Aldo e Vanda não esclarecem coisa alguma. Sabemos que Aldo, protegido por evasivas e generalidades, não consegue justificar a decisão de renunciar à mulher e aos filhos — o que é o mesmo que dizer que não quer ou não pode renunciar a eles de todo, mas apenas em parte. Ele diz rejeitar os papéis de pai e marido a que estaria sujeito, e portanto preso, ao fazer parte de uma família. Precisamos nos adaptar aos novos tempos, sugere ele, o que acarretaria o rompimento com certas convenções. Fidelidade, como Aldo dirá na segunda parte do livro, representaria “um valor pequeno-burguês”.

Laços se desenrola em três movimentos. No capítulo seguinte ao das cartas de Vanda, é Aldo quem assume a narração. Uma vez que o primeiro panorama que Starnone oferece aos leitores é o do rompimento, é fácil enxergar a rachadura quando, décadas depois, encontramos marido e mulher reconciliados. Descontado o hiato na década de 1970, o casamento já dura cinquenta anos. É o que Aldo, agora um septuagenário, chama de “um longo fio de tempo enovelado”. Malgrado o ruído de fundo inquietante, que de início nos parece fugidio, a rotina do casal se mostra tranquila. A ruptura acontece quando, depois de uma temporada na praia, Aldo e Vanda retornam ao apartamento de Roma e o encontram desordenado. Móveis e objetos estão quebrados e espalhados. É preciso organizar o lugar, tornando a ocultar o que foi exposto.

A terceira e última parte é narrada por Anna, filha do casal. Em frases argutas que dão conta de que os irmãos, agora adultos, perceberam muito mais do que se supõe que crianças percebem, o capítulo de Anna derruba de vez qualquer ilusão sobre a felicidade conjugal, passada e presente, de Aldo e Vanda. “Os únicos laços que contam para os nossos pais são os que eles usaram a vida inteira para torturar um ao outro”, diz Anna.

 

Zonas cinzentas                                           

Ainda que o título sugira o reconhecimento de certos vínculos, a condução de Laços projeta o exato oposto. A força do livro está na ausência e na suspensão. A Domenico Starnone interessam as fissuras que resultam do não reconhecimento do outro. Não há, porém, um movimento investigativo. A narrativa não projeta luz sobre os pequenos abismos que se abrem e se aprofundam aqui e ali. A opacidade é preservada, reforçando o que há de insondável nos hiatos e silêncios.

Aquilo que se pode intuir nas entrelinhas dos três discursos também é visível na organização e no andamento do livro. As principais vozes do romance — de Vanda, Aldo e Anna — não se relacionam ou se articulam senão de modo vago, o que obedece ao nível da construção dos personagens tanto quanto ao da estrutura narrativa. Ainda que estejam estreitamente ligados, sujeitos e capítulos permanecem apartados uns dos outros.

No plano dos personagens, aquilo que os mantêm unidos é quase acidental. Silêncios e ressentimentos não são substituídos pelo reconhecimento. No primeiro capítulo, a dor de Vanda é expressa em fragmentos que terminam por se aglutinar em um monólogo, apesar da ilusão inicial de um diálogo. Não se sabe o quanto o marido pôde ou quis compreender das cartas escritas pela mulher. Quando voltam a viver juntos, Aldo escolhe calar — mantendo uma existência privada e à parte, guardando segredos, cultivando gracejos cujo sentido apenas ele conhece. É Vanda quem estipula as regras e controla, sozinha, a rotina da família. Anna, a filha que narra o último capítulo, testemunha de todos os conflitos, é a personificação do solipsismo. Os outros três lhe parecem meros objetos que podem ser manipulados à vontade. Não à toa, a Anna que surge nas lembranças do pai é bem diferente da que se mostra diante do irmão, que é, por sua vez, distinta da Anna real.

Tudo está contido no acordo tácito de Aldo e Vanda, que prevê a ambiguidade e o não dito. É a apatia e a evasão que mantêm o equilíbrio doméstico. Para que um casamento funcione, aconselha Aldo, “é preciso dizer bem menos do que calamos”.

A compreensão vai muito além dos laços, parece sugerir Starnone. Exige a disposição de ser verdadeiro e um outro que esteja disponível para ouvir. É por isso que cada capítulo, embora se ligue plenamente aos outros dois, é um todo vedado.

Laços entrega, no fim das contas, um elogio das zonas cinzentas. É o verdadeiro triunfo dos desvãos quase inacessíveis, empoeirados e escuros, que abrigam lembranças recalcadas e objetos indesejáveis.

 

Elena Ferrante

Publicado no Brasil no segundo semestre de 2017, Laços tem sofrido, mais do que se beneficiado, com uma comparação inevitável.

Domenico Starnone é casado com Anita Raja, a tradutora que estaria — desde 1991, quando começou a escrever e a publicar os próprios livros — por trás do pseudônimo Elena Ferrante. Antes mesmo de a investigação de um jornalista italiano apontar para Raja, no entanto, uma suspeita pairava sobre o próprio Starnone, que sempre fez questão de negar qualquer ligação com a obra ou com a autora.

Há na escrita de Starnone a mesma qualidade que distingue a de Ferrante: de uma história aparentemente banal sobre um dilema conhecido, cujo apelo é forte o suficiente para agradar a um bom número de leitores, é possível retirar sutilezas inesperadas. Em uma entrevista a Jesper Storgaard Jensen incluída na coletânea Frantumaglia, Ferrante, quando questionada sobre seu “método de escrita”, diz alternar certa “nitidez dos fatos e baixa reatividade emocional” com “uma espécie de tempestade sanguínea, de escrita convulsiva”, evitando, como faz questão de ressaltar, traçar uma linha divisória entre uma coisa e outra. O mesmo recurso se encontra em Laços. A despeito de tudo aquilo que aparta um capítulo e um personagem do outro, não há uma linha divisória nas oscilações entre a escrita contida, facilmente confundida com uma descrição objetiva das situações, e o rompante emocional.

Há, de fato, muitas semelhanças entre os enredos, as estruturas, as construções e a linguagem dos dois autores. O trabalho que mais se aproxima de Laços é, de modo geral, Dias de abandono. Na trama de Ferrante, Olga é abandonada pelo marido depois de quinze anos de casamento. Sozinha com os dois filhos, como Vanda, ela precisa se refazer do choque e retomar, ou assumir pela primeira vez, o controle da própria vida.

A escritora Jhumpa Lahiri, que traduziu Laços para o inglês, assina um prefácio incluído também na edição da Todavia. Segundo ela, Laços “é um romance sobre o que acontece quando as estruturas — sociais, familiares, ideológicas, mentais, físicas — desmoronam”. Ela tem razão. O gatilho para uma das passagens fundamentais do livro de Starnone é a descoberta, por Vanda, do verdadeiro sentido de Labes, o nome do gato da família. Ao contrário do que Aldo havia dito, o termo em latim significa queda, desmoronamento, desabamento, ruína, desastre, desventura. O desmoronamento é o mote de Dias de abandono.

Mas é preciso ir devagar com a comparação. Se relacionar um livro com outro tem suas vantagens, o expediente nem sempre é uma boa estratégia em crítica. Enxergar e apontar conexões é, sem dúvida, tanto um ponto de partida quanto um tipo de análise em si mesma. É o que distingue a crítica, que situa e associa, de outras formas de texto. Quando o foco é um livro, contudo, há um limite a ser observado, sem o qual é fácil cair na tentação de explicar a narrativa não pelo funcionamento interno, mas pelo que acreditamos que a liga a uma segunda. O centro da argumentação é, assim, deslocado do livro para a natureza de uma relação. E, ainda que a busca por pontos em comum ajude a potencializar o efeito de duas obras, fazendo com que novos sentidos venham à tona, a atenção exclusiva à comparação, quando a intenção é examinar um livro, dificilmente contribui para o efeito desejado. As primeiras leituras que o recém-chegado Laços recebeu abrem mão de enxergar a escrita de Starnone pelos próprios méritos, procurando traçar paralelos estranhos, quando não forçados ou depreciativos, com o romance protagonizado por Olga. Ver em Laços um complemento ou uma resposta a Dias de abandono é reduzir o livro de Starnone a um mero eco ou apêndice. É, em resumo, ceder à especulação fácil (e pouco produtiva) que o apagamento da autoria de Ferrante sempre procurou evitar. Pode ser uma boa tática para despertar o interesse dos leitores pelo livro. Não é uma boa tática de crítica. Só podemos ir até certo ponto, e sem perder Laços de vista.

Uma segunda desvantagem de enxergar em Laços uma espécie de complemento de Dias de abandono é ignorar outros romances que servem de base para uma comparação ligeira. Uma das possibilidades é ver na situação inicial de Aldo Minori uma semelhança com a de Elena Greco, narradora da Tetralogia Napolitana. A certa altura da década de 1970, casada e mãe de duas filhas, Greco vê o contexto mudar pouco a pouco. Ela já não sabe como se comportar. Os papéis bem definidos de mãe e esposa, no momento em que os mesmos papéis começam a se alterar ou a ser questionados, a inquietam. Quando se prepara para dar uma palestra em uma universidade, Greco vê, talvez pela primeira vez, mulheres que se comportam com alguma liberdade. Isso a faz se sentir deslocada.

Por ambos os livros é possível perceber que a emancipação feminina, na esteira da revolução dos costumes que tanto confundiu Aldo, traz um peso imprevisto. Lidia, a jovem de dezenove anos com quem Aldo mantém um relacionamento, é uma universitária. Vanda é uma dona de casa. A consciência da disparidade faz com que ela se sinta inadequada. Vanda intui que precisa se renovar, “ser mais do que uma boa esposa e uma boa mãe”. Mais, não menos: à mulher sempre cabe abraçar tudo. O homem, tanto em Starnone quanto em Ferrante, tem maior liberdade para renunciar ao que não lhe agrada ou lhe pesa, e para usar do feminismo apenas o que lhe convém.

 

 

Laços

Um homem e uma mulher, personagens periféricos que fazem sua aparição em cenas breves, têm a dupla função de acentuar a tensão de Laços e potencializar o estranhamento que define as relações entre os protagonistas. Na abertura do segundo capítulo, uma jovem faz uma entrega no apartamento de Aldo e Vanda. Depois de distrair Aldo, ela acaba cobrando mais do que havia sido combinado inicialmente. Em outra passagem, em frente ao prédio do casal em Roma, um estranho, durante uma conversa esdrúxula, aproveita um descuido para subtrair cem euros da carteira de Aldo. Ambos conduzem o diálogo para o terreno da familiaridade e do afeto com a clara intenção de fabricar uma breve conexão. A moça mostra interesse pelo gato do casal, Labes, a fim de puxar assunto. O homem finge conhecer Aldo, e diz que o pai ficará contente quando souber do encontro dos dois. Em Laços, o reconhecimento ou não existe ou é falso.

Não há ilusão sobre os laços, enfim, sejam eles quais forem. Como escreve Jhumpa Lahiri, lacci, em italiano, pode significar “tanto um elo amoroso quanto um dispositivo de retenção”. É evidente que o termo surge no livro de Starnone — com leves alterações de um capítulo para o outro, e até de um parágrafo para o outro — em sua acepção negativa, como “um meio de refrear, capturar alguma coisa”. O que se quer manter, no entanto, é o sofrimento do outro. Anna tem razão quando diz que a finalidade das amarras dos pais é a tortura.

A dinâmica talvez fique mais clara com outra figura de linguagem. No início de Febre e lança, primeiro volume da trilogia “Seu rosto amanhã”, Javier Marías escreve que “raro [é] o vínculo que não se enreda ou amarra, e assim acaba num nó”, de modo que é preciso “sacar a faca ou o gume para cortá-lo”. É essa qualidade dúbia — quando não violenta — dos laços de que fala o romance de Starnone. É curioso que essa brutalidade tenha se originado de uma imagem tão banal e inofensiva quanto a de uma pessoa amarrando os sapatos.

No último capítulo do livro, Anna conversa com o irmão, Sandro, no apartamento vazio dos pais em Roma. “Em toda casa há uma ordem aparente e uma desordem real”, diz Sandro. Não uma desordem subjacente ou dissimulada, mas real. A realidade não é o que se vê, é o que está oculto (e talvez inacessível) nos cantos escuros. E a realidade é sempre desordenada. No prefácio, Jhumpa Lahiri nota que ordine é uma palavra recorrente no romance, talvez porque a ordem esteja, em Laços, “constantemente sob ameaça”.

Lahiri escreve ainda que, em Laços, “a vida precisa ser relida para ser vivenciada por completo”, porque “quando as coisas são relidas, reexaminadas [e] revisitadas é que são compreendidas”. Ela está enganada. Se há compreensão em Laços, é uma compreensão oblíqua e parcial. Quando Vanda tenta examinar o casamento com Aldo, percebe que há emaranhados que não é capaz de deslindar. Ele tampouco tem a ilusão de entender por completo o que se passou. No que diz respeito às relações entre eles, não há nem sombra do reconhecimento que abre caminho para o perdão e o afeto. Cada personagem permanece agarrado à própria narrativa confusa, que não raro contradiz a do outro — numa permanente atualização que torna o tom do romance um tanto irônico aos olhos dos leitores.

Mas Laços deixa sobretudo um gosto amargo. Nesse sentido, o desabafo brutal e desiludido de Vanda ao final do segundo capítulo é um dos pontos altos do livro. Entendemos que a retomada do casamento não foi motivada pelo amor. Talvez nunca tenha havido amor. Vanda, segundo diz, só se casou com Aldo porque ele permitiu que ela se considerasse “uma mulher adulta”. Aldo foi quem possibilitou que ela descobrisse como era “viver a dois, o sexo, os filhos”. Quando ele a abandonou, Vanda sofreu pelo tempo escoado e pelo esforço vazio, não pela ausência. Quando o recebeu de volta, foi apenas para que ele restituísse o que havia tomado. Mas, além do tempo e do esforço, ela não sabia bem o que era que Aldo havia tomado. Ele tampouco. Em seguida, Vanda alude ao “emaranhado de emoções e desejos e sexo e sentimentos” que tornam difícil avaliar a situação conjugal — justamente as motivações ocultas e impossíveis de desenredar, e que criam a zona cinzenta que Laços não ilumina, nem pretende iluminar.

No mesmo discurso em que analisa o próprio casamento de maneira implacável e definitiva, Vanda emprega uma metáfora enigmática que parece regular boa parte do sentido do livro. De acordo com ela, “o amor é um recipiente no qual enfiamos tudo”. É possível que o amor romântico, tal como a maioria o concebe, esteja disponível em formato e tamanho únicos. O conteúdo, desejável ou doentio a depender da situação, é alterado — de forma negativa ou positiva — por nossas necessidades ou carências, projeções e idealizações. Tudo cabe, e a tudo, mesmo ao que é claramente nocivo, damos, por comodismo ou covardia, e sobretudo a fim de seguir um roteiro programado, o nome de amor. Mas o amor é outra coisa. Domenico Starnone fala de laços que se atam de forma incompleta e se desatam com facilidade excessiva. E de laços que, a despeito dessa qualidade tênue, e por paradoxal que pareça, não são nada além de uma prisão.

 

[Imagem de capa]

4 Comments Domenico Starnone e o elogio das zonas cinzentas

  1. Sonia Meneghetti

    Oi, Camila,

    Gostei muito da sua crítica. Quando comecei a ler, de cara, lembrei de “Dias de Abandono”. Entrou na fila, claro.
    Você faz uma boa digressão sobre o possível laço com a Ferrante. Cita uma passagem de Frantumaglia o que dá consistência ao que você diz.

    Sempre admirável, Camila.
    Sou fã de carteirinha. Recomendo seu blog e me refiro a você como gênia, acho que é mesmo.
    Um beijo.

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  2. Caio Lima

    Não sei se é por ter consumido muita coisa que habite esses “espaços cinzentos” ultimamente, mas todos esses vazios que se aglomeram em Laços e seus múltiplos significados (que chegam a um denominador comum; ou não) me fazem pensar por ângulos que concordam, mas tangenciam a coluna argumentativa estabelecida por você na resenha. Eu sou péssimo pra explicar as coisas de forma sucinta, sempre me enrolo, mas tentemos.

    Dá pra dividir os “espaços cinzentos” em dois conjuntos: o que é dado e o que é recebido entre cada um dos envolvidos na trama. E o tempo todo, basicamente, aquilo que Aldo dá a Vanda não retorna a ele da forma desejada e vice-versa. Existe uma distância enorme entre idealizar algo e isso materializar-se com perfeição. São correlações que colocam à prova a teoria de “causa e efeito” que, em certo ponto, até eu costumo usar como clichê por aí (e acredito que todo mundo use/tenha usado). A própria relação “perfeita” de Aldo com a estudante-que-eu-esqueci-o-nome foge aos padrões idealizados por ele com o andamento da relação e a crescente aproximação com os filhos.

    Isso implica num ponto que é tão visceral quanto necessário tocar, principalmente na literatura, onde há uma crescente onda de liquidez por vários caminhos tortuosos e “perfeitos”: criar laços é uma construção contínua, imperfeita, sensível e extremamente difícil de equilibrar. É uma relação bem paradoxal entre “ser” e “ceder”; até que alguém se ache nesse espaço cinzento todo, nunca é possível saber a medida certa, a não ser a sensação de bem-estar contínua e prolongada (o que pode ser uma bela pegadinha também, vide Vanda).

    Sempre levando para a relação-base entre Aldo e Vanda, que serve de origem e referência para todas as relações que constituem Laços (sem que as tornem meras cópias ou relações genéricas entre si, o que é um baita feito), fica bem evidente na “reconciliação” do casal o efeito suspensivo de qualquer construção para o emergir definitivo de uma “zona de tolerância”. Para quem visualiza essa relação sem sentido/sentimento de fora, como um espectador altamente interessado, acaba por parecer uma linha tênue o que separa o laço de um nó. Acaba o amor sendo apenas um artifício argumentativo para justificar tudo. O que está muito bem escrito na sua resenha, claro, e tudo converge.

    Acredito que esse seja o grande trunfo e mérito de Domenico, pensar sobre o que, de fato, você faz com os raios dos laços que vai criando na vida sem que isso pareça tão tênue, tão específico e extraordinário. A relação de causa e efeito é um grande “efeito estufa”, talvez o maior dos nossos tempos, vai saber.

    Não li Elena Ferrante ainda. Porém, pelo que li, a expectativa acabou de aumentar.

    Enfim, é uma belíssima resenha para um belíssimo livro. Espero não ter me embolado muito. 🙂

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